7.8.07

ASAS

Os anos presenteavam-lhe com asas. Não sabia, entretanto, como usá-las... Guardava-as ao alcance dos olhos na infantil tentativa de, à noite, antes de dormir, aquela última imagem inspirar seus sonhos, impulsionar seu ilusório vôo no qual a brisa envolveria seu rosto, delicadamente. Ao menos no sono. Ao menos por sonho. E sempre, ao acordar, como que num ritual ficava ali: imóvel, respirando baixinho, quase imperceptivelmente. Seus olhos cerrados para a realidade. Sabia que não adiantaria evitá-la, ela sempre chegaria com suas correntes. Mas continuava ali. Quieta. Quase como uma santa em oração, rogando aquelas mesmas asas para seus dias. Asas de proteção.




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Do tempo:
Registre-se, publique-se e cumpra-se.
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